quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Noturno

Pelo amor de Deus, só me abandone de noite.
Se quiser viajar sem mim, se ficar louca por outra pessoa
Ou até se quiser visitar sua família e não me levar, vai de noite.
Nunca, mas nunca mesmo, me deixe de dia.
Não vá me expor aos camelôs gritando, ao sol a pino, à modernidade clara.
Fique comigo mesmo sem querer, só até às seis da tarde.
Não me deixe sozinho com mulheres gordas no supermercado, os senadores atrasados, as lanchonetes rapidinhas.
Agora, de noite pode ir.
Eu e os meus fantasmas, apesar de saudosos, sobreviveremos à sua falta
Noturnos.
Assim seja.

[Oswaldo Montenegro]

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