quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Pierrot e Colombina

discutem a relação em plena 4ª feira de cinzas...

Pierrot diz:
Colombina, de uma vez,
acabe com essa minha dor

Colombina diz:
Dor que criastes!
Não hei de acabar,
que sejas dor até o fim
do que pra ti causastes.

Pierrot diz:
Mas, oh minha amada,
se é de meu amor que falas,
que chegue ao fim
essa vida amargurada

Colombina diz:
Não culpe me por suas angústias!
Eu nunca hei de amar-te.
Sou de Arlequim.
Agora vá Pierrot,
e não permita nenhuma desgraça.
Vá e ame a quem queira o seu amor.

Pierrot diz:
Meu amor é que não quer a outra qualquer,
se do drama sou o rei,
minha rainha é essa solidão
a quem me dei

Colombina diz:
Vá com sua rainha
e morra aos meus olhos,
não importo me com sua dor
e não sacia me seu amor.
Vá para enfim,
eu ter paz para despejar meu amor por Arlequim.

Pierrot diz:
E tu nomeias minha dor
em cada frase que dizeis,
esse nome a ecoar
em cada pranto que chorei.
Me desejas o mal
enquanto te quero só o bem,
ainda assim, oh meu amor,
aguardo... de teu amor refém...

Colombina diz:
Tu me pedes para acabar com sua dor,
sabendo que aqui não vive amor
por você,
não aspiro mal,
por você não aspiro bem,
por você nada aspiro
já que minha ambição é por Arlequim,
que hei de ser até o fim

Pierrot diz:
Tu nuncas diexarás de ser Colombina,
aquela que a luz irradia,
cachos dourados e o peito trancado para a felicidade de verdade.
Mas o que será de ti então se eu não mais te amar?
Preferes alguém que te queira na cama,
ou alguem que realmente te ama?
Essa é tua aclamada liberdade?

Colombina diz:
Não refira-se a Arlequim como Caim!

Pierrot diz:
Caim não, Caim é ciúme...
Esse seria eu próprio.
E não me tentes a falar de Adão e Eva, Lilith.

Colombina diz:
Como sentes amando uma serpente, Pierrot?
Sendo Lilith, ‘‘Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo?"

Pierrot diz:
Mas é justamente essa a minha busca,
pela mulher que não se sujeita, pela mulher que sabe impor-se.
Aquela Colombina sorridente e esvoaçante
que me teve dominado num instante.
Quero aquela Lilith que entende a diferença entre a solidão em meio à multidão
e a multidão que habita em mim.

Colombina diz:
A busca que dói, mas que assim escolhestes Pierrot.
Criastes um destrato que pensas ser amor.
Num instante nasce um bem querer,
e se for amor,
cresce num brilho e não em dor.

Pierrot diz:
Se não é esse querer bem, essa necessidade de saber-te bem,
se isso pelo que me não mais durmo não é amor, o que seria então?
Seria o tal amor um regresso à solidão?
Te busco em sonhos e desejos e encontro em braços brutos e alheios?
Se de minhas mãos só te saem versos e flores,
se de minha boca só te digo bendizeres e cantos,
se de meus pés tu podes ouvir os passos a te acompanhar
e quando parte pode sentir meus olhos a observar?
Podes negar que seja amor???

Colombina diz:
Que seja!
Que diferença faz para mim, que amo Arlequim?
Versos, flores, cantos e bendizeres... em vão!
Ah quanta ilusão!
Eu peço, agora vá!
Para não mais voltar, pois és empecilho para eu amar Arlequim.

Pierrot diz:
E pode Arlequim lhe oferecer o mesmo?
Não refiro-me aos versos, flores, cantos e bendizeres,
refiro-me ao preocupar-se,
ao querer-te bem,
ao estar a seu lado,
acompanhá-la por todo o caminho,
ao teu lado.
Estar contigo na jornada
não é o mesmo que lhe ceder abrigo
e ver teu sorriso partir ao cair do dia.

Colombina diz:
Pierrot, o que sabes sobre o que quero?
De uma vez, amo Arlequim, agora vá!
Adeus Pierrot.

Pierrot diz:
Tu não me convence porque tampouco te convences.
Essa és tu, Colombina,
a indecisão,
a cabeça nas nuvens
e a negação.
Negação de quem tu és,
de querer saber pra onde vais,
e o orgulho insano de não querer contar com a ajuda de quem sempre irá te amar.

Colombina diz:
Eu sou Colombina.

Pierrot diz:
Sei quem és, não desejo mudá-la.
És a unica e verdadeira manifestação de meu afeto.
Sabia desse desfecho do início ao fim,
a única razão desse meu desesperado gracejo,
era te oferecer uma opção
exatamente o que não fez quando dissolveu minha razão

Colombina diz:
A única razão desse seu desesperado gracejo,
era convencer me a amar te,
esquecendo, Pierrot
que não se convence de amor.

Pierrot diz:
Não se convence de amor,
não se morre de amor.
Não se vive sem amor porém.
E quanto a ti, querida Colombina,
desejo-te sorte para que encontre em seu caminho
somente àqueles que como eu lhe querem bem.
E quanto a mim, preciso dessa dor para poder continuar,
preciso dessas minhas lágrimas para me alimentar.
Remédio do corpo e da alma, somente seus beijos haveriam de me curar,
mas se essa é tua escolha, respeitarei e me vou.
Meu amor é maior que sua ausência, ele persiste.
Teu caminho estará então, aberto.
Escolha com sabedoria, contorne os obstáculos,
não estarei lá para ajudá-la a saltá-los.

Colombina diz:
Adeus Pierrot.

Pierrot:...
(ouvem-se passos e soluços a confundir-se nos sons da ausência)



Por Aislan Munin e Nathalia Maria

Um comentário:

Eliane (mama) disse...

Ai que triste!
Ai que lindo!
Tanta dor... tanto amor...

Sensível, suave e profundo sentir!!!

Amei!
Bravo!
Bravíssimo!!!!!!!